quinta-feira, abril 06, 2006

Opinião

Este texto vem mais ou menos em resposta ao comentário da Martinha, no último post.Como estou um pouco mais por dentro destes assuntos que vocês, posso divagar aqui algumas desculpas que podem levar ao estado de certas casa antigas em Portugal.

Falando do caso que me é mais familiar, relacionado com as casas que são herdadas. Digo desde já que ter (muitas) casas não é bom. Tenho várias casas arrendadas na vila que foram obtidas por herança. Ás pessoas que lá viviam era cobrada uma renda ridícula para os padrões actuais. Não sei porque se deve, mas pouco eram actualizadas e chegou-se a este ponto. Isto acontece com muitos prédios antigos que vemos pelas cidades. As rendas são baixas e o senhorio não reúne o dinheiro necessário para fazer obras de manutenção. Por exemplo, (na vila) depois ficar desocupadas uma casa, tiveram de ser feitas obras no valor de €2500, pois o telhado metia água e foi posto em telhado novo. Ora se continuassem a ser cobradas rendas de €5, €10 ou €15, não se conseguiria reaver o dinheiro em tempo útil.
No meu caso quando uma casa antiga é desocupada, têm quase obrigatoriamente que ser feitas obras, pois nenhuma delas tinha uma casa de banho e por vezes água canalizada. Fazer obras é das coisas mais caras neste momento, e quando são novamente alugadas, as rendas são actualizadas para os níveis actuais. Podem andar à volta de €150 mensais ou mais, consoante o tamanho da casa. Mesmo assim façam contas a €150 por mês, em quantos meses estaria uma obra de €2500 paga.

Marta, na vila existem casas lindíssimas recuperadas e outras a cair. Geralmente as casas maiores são as que estão mais abandonadas. O preço para sua recuperação por parte dos proprietários é muito elevado, e o que acontece mais vezes é que este deixa de ter interesse na casa, ou em ir à vila. Chama-se a isto desertificação, apesar de que não é nada notado nesta região do Alentejo, antes pelo contrário.
Acontece por vezes também o proprietário da casa morrer e não ter herdeiros. Nestes casos não sei como se procede.

O caso de serem feitas obras que estraguem a parte visível da casa (frontaria) isso ocorre mais por parte de pessoas que residem todo o no nelas. Ou cobrirem a casa da azulejos de padrões de gosto duvidoso, pintar a casa de azul bebe (eu já vi uma pintada assim na vila), rodapés em mármore ou bocados de mármore pintados de preto nos intervalos, etc. Todas estas coisas descaracterizam a casa em relação ao contesto em que estão inseridas, e quando são muitas deixam de se notar tanto, apesar de não deixar de ser horrível.
De muitas justificações que se possa ter em relação a esta atitude, a minha diz que passar muito pela cultura das pessoas, o que gosto que têm pelo sítio onde vivem, e como encaram a vida. O dinheiro é também muito importante logo deve ser mais barato fazer deste modo. Poderá dizer-se que é a maneira de ser dos português, em querer ter sempre melhor e maior que o outro. Deixar as linhas antigas das casas é associado ao passado e ás poucas condições que as casas tinham em relação ás actuais. As pessoas devem pensar que é moderno fazer as coisas assim. Como se faz na cidade, sempre o exemplo a seguir.

Sublinho que a cultura e o respeito pelo próximo, e pelo que está à nossa volta tem o maior peso.
Bons exemplos são as aldeias histórias em que a autarquia local e as entidades competentes tiveram de ter mão de ferro para aguentar os residentes. É por isso que tenho Óbidos, Monsaraz, Monsanto, Marvão, Castelo Novo, Idenha-a-Velha, etc.

Sei que fui longo que estas coisas não se escrevem em ½ dúzias de linhas, mas poderia ter escrito muito mais.
fotos - algumas casas do largo onde está a minha casa; telhado antigo degradado.

2 comentários:

Anónimo disse...

A Martinha agora que ouse dizer que não percebeu e tal. :)

Em caso de não haver herdeiros a casa é dada ao estado que muitas vezes deixa-a ao abandono. É este o país em que vivemos.

Exactamente por causa das rendas antigas serem tão baixas que não compensa ao senhorio fazer obras, é que o estado aumentou as rendas significativamente para alguns casos. Não sei se isso resolve alguma coisa ... mas eles tentam. ;)

Beijocas

diariodebordo disse...

Lol xiça, que grande palestra! :p

Eu sei que é de facto muito caro fazer obras hoje em dia e que demoram tb muito tempo a estarem finalizadas, etc. Será que não existe um subsídio qualquer ou coisa que o valha para casos em que as casas são antigas e precisam de sre restauradas? Não é só o facto de ser feio ver casas a cairem aos bocados, tem tb a ver com a nossa identidade como povo "velho" que somos, é uma parte do nosso património, mesmo que não seja um monumento ou um museu. Por exemplo, as casas em que os proprietarios morrem sem deixar herdeiros, muitas podiam ser recuperadas com as linhas originais pelas camaras e podiam por lá a funcionar serviços ou assim. Mas, tb tenho noção de que as verbas para essas coisas sejam pouco satisfatórias.
Não sei se me faço entender...
:)

mtas bjokas*