segunda-feira, agosto 21, 2006

À beira do Tejo

O percurso até ao Crato, aquela hora da manhã tem o seu que de estranho. Já tinha tido a mesma sensação à um ano atrás. Parece que tudo ainda está a acordar, até eu. Estrada vazia, poucas curvas, condução fácil e suave. Passo por Santa Eulália onde existe uma antiga (?) colónia penal juvenil, sigo em direcção a Monforte. Antes de Monforte passou por um cruzamento típico de aparecer no “Portugal no seu Melhor” ou “Nós por Cá”. Já o começo, por isso antes de o ver, vou abrandando. Apesar de sinalizado, só se repara nele mesmo em cima, e ainda por cima é no final de uma recta. Mas podia ser pior.
Passo pelas Termas de Cabeço de Vide, que não conhecia a sua existência. Alter do Chão (por na agenda uma visita) e finalmente Crato.
Montei a bicicleta e lá vou eu. Não encontro posto de turismo. Fui até ao castelo meio perdido. Fiquei decepcionado com as obras que lhes estão a fazer. Passei pela câmara onde já tinha passado de carro. O largo dos paços do conselho é quase sempre o mais arranjado, com o típico pelourinho (foto). Vou-me embora.
A caminho de Nisa encontro uma placa que me chama a atenção. Caminho de Santiago (!) Aqui por estas bandas? Mas claro, era só esta placa.
Nisa e o seu Posto de Turismo cinco estrelas. Vim de lá cheio de papelada entre roteiros pela vila a percursos pedestres.
O percurso que está no guia começava na praça da Republica, amplo espaço recentemente arranjado, com jardins, lago com repuxo e jogos de água, coreto e lugares para estacionamento. No Largo António Granja estão as Portas da Vila (foto), que dão acesso à parte velha e mais escondida da vila, aquilo que procuro e realmente aprecio nos lugares por onde passo. Logo a seguir, a Igreja Matriz do séc. XVIII. Não me faço de convidado de um casamento a decorrer, e contínuo pela Rua Dr. Francisco Migueis em direcção aos Paços do Conselho com a sua fonte oitocentista, o pelourinho com esfera armilar de ferro e brasão e a Capela da Misericórdia aproveitada para expor arte sacra. Por baixo de um arco, cuja placa com o nome não me lembro de ter olhado, chego à Rua António Lobo da Silveira Alvito. Todas as quatro ruas do lado direito são o espelho da parte antiga da vila. Ruas estreitas, casas de dois pisos algumas com lintel de pedras nas portas e janelas (foto). Saio do castelo pelas Portas de Montalvão. O resto do percurso de volta à Praça de Republica é feito pelo meio da parte nova, parecida com qualquer parte nova de uma povoação. Resta falar da Fonte da Pipa, perto da entrada da vila, protegida por um pórticos que é suportada por duas colunas.
Continuo para norte em direcção a Vila Velha de Ródão, primeira vila portuguesa que o Tejo vê ao entrar em Portugal. O encontro com o rio depois de uma estrada entre montes, foi uma boa visão. O passar a ponte de ferro com pilares de pedra foi outra. Do lado esquerdo o rio passa entre dois montes escarpados (foto). Sou tentado por uma indicação de diz miradouro/igreja/castelo. Combinação perfeita. Subo por uma estrada estreita no meio dos pinheiros e depois de alguns quilómetros de alcatrão um pouco duvidoso estaciono ao carro ao pé de uma pequena capela impecavelmente pintada de branco. Ao cimo do monte uma torre. Mas perto uma placa diz que está a ser recuperado o castelo do Rei Wamba. Pelo nome deve ser um rei mouro. Não podia ter escolhido melhor sito por ser o monte mais alto à beira rio, de onde se podia ver uma grande extensão do rio, bem como a linha-férrea que pela margem o seguia (foto).
Cheguei a Mação e estacionei o carro perto da Igreja Matriz. O meu contacto em Mação mostrou-se surpreendo por já estar na vila, devia ter telefonado antes para ter tomado outra direcção na entrada. De telemóvel na mão esquerda e volante e manípulo das mudanças na direita lá fui contornando a Igreja Matriz, passando pelo MiniPreço, pela Câmara Municipal e logo a seguir virar à esquerda, na rotunda à direita e estacionar logo a seguir.
Depois de um olá sorridente, lá fomos nós dar uma voltinha. “Boas vistas? Igreja? Montanha? Rio?” perguntou. Respondo mais ou menos todas. Fomos em direcção ao parque de Merendas do Brejo. Avisou-me que a estrada se ia degradando progressivamente e não é que estava a dizer a verdade? De nacional passou a caminho secundário que passou a estrada para carro e meio até que passou a estrada de terra. “Mas onde é que vai meter a minha querida carrinha?”, penso. Explicou então que o Conselho de Mação tem sido fustigado por fogos nos últimos anos que reduziram a imensa mancha verde, constituído principalmente por pinheiros bravos, a meia dúzia de árvores perto das povoações. Por esse motivo, a câmara abriu estradões põe todo o lado para mais facilmente se ter acesso à zona do incêndio. Além disso estão todos bem sinalizados como se fosse uma estrada normal, com indicação para onde vai e a distância.
O Brejo é um local no meio da montanha, onde se aproveitou uma nascente e os vestígios de uma velha mina, para fazer uma fonte e um parque de merendas com bancos debaixo de árvores ainda jovens. É uma espécie de oásis no meio de uma encosta árida (foto), à espera que a vegetação volte a crescer.
Passagem pelo posto de vigia do Bando dos Santos, onde a vista justificou a construção de um miradouro num monte próximo. Em dias mais limpos, a Serra da Estrela fica logo ali. Sempre impressionante passagem pelo parque eólico a seguir.
São Gens não é mais do que uma capela no alto do monte, que sobreviveu aos incêndios, só com umas chamuscadelas. Diz a tradição que quem tiver falta de apetite, é só subir até lá e bater três vezes com a cabeça na porta que resolve o problema. Subir até lá acima de certeza que abre o apetite, mas convêm ir acompanhado, porque depois de três cabeçadas na porta de ferro da capela, é bom ter alguém nos apare.
Na Azenha do Cavalo, deixamos o carro fora da estrada e procuramos um pego que existe na Ribeira do Aziral. Caminhamos entre silvas e fetos, pinheiros queimados, com eu com um cacho de uvas docinhas, com muita pele e grainhas, enchemos a roupa com risco de carvão, e as típicas ervas, mas não encontramos nada. Valeu mesmo assim a pena.
Passamos por um espelho de água que tem bom aspecto para dar uns mergulhos. Foi criado por uma pequena barragem. Esta massa de água estende-se ainda por baixo de uma ponte, de onde os mais corajosos se atiram.
Outros nomes: Pereiro, Castelo, Vale da Mua, Envendos, Furtado, Vale de Coelho. Gosto de alguns destes nomes, pois parecem que foram “inventados” por alguém com o nariz entupido.
Fim do 2º Dia

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