domingo, março 26, 2006

Malveira da Serra – Barragem do Rio Mula – cruzamento do Convento dos Capuchos – ….

Já há algum tempo que não corria tanto tempo (cerca de 1 minuto), mas desta vez foi para apanhar o autocarro! Mais uma vez a minha vontade de não sair de casa saio derrotada, mas foi por pouco desta vez. Se tivesse perdido o autocarro, voltava para casa e o programa para o dia era outro.
O dia parecia ser como qualquer outro dia nublado, mas foi progressivamente piorando. O sol que ainda cheguei a ver quando me levantei, e que ainda me deu esperanças de uma bom dia, desapareceu rapidamente.

Hoje o percurso passa por uma albufeira que há em plena serra de Sintra, mas nunca tinha ouvido falar. Tomei conhecimento dela pelas fotos de satélite que tenho. Despertou-se interesse devido ao seu tamanho em relação à famosa Lagoa Azul, cerca de duas vezes maior. Este local chama-se Barragem do Rio Mula.
Para lá chegar, utilizei um percurso marcado que tinha visto da última caminha. Depois de ter saído da estrada da serra (que vai do Linhó à Malveira da Serra), em direcção à Pedra Amarela, cheguei a num cruzamento onde tomei o caminho marcado da direita, que me levava a descer a encosta.
O que mais gosto nos percursos que faço é ser surpreendido. E podem não acreditar, mas não me lembro de nenhum que isso não tenha acontecido. A serra está cheia de sítios fantásticos prontos a ser descobertos. Uns fáceis de encontrar, outros que só as pessoas com um maior espírito de curiosidade como eu, são revelados por sorte ou não.
Encontrei uma estranha construção em pela serra, longe qualquer estrada asfaltada (significando acesso restrito), que não era mais nem menos que uma piscina natural. Sem vedação, sem nada à volta, aproveitando a agua que corria da serra, criou-se um pequeno espaço de retenção de água que tinha escadas de acesso, chão forrado de lajes de pedra, e até uma pequena zona protegida, tipo paragem de autocarro. Pensei que este espaço arranjado, no Verão seria um excelente sítio para uma pausa e banhoca para refrescar.
Continuei por uma caminho onde corria um fio de água. Hoje foi o dia que meteu mais água de todas as caminhadas que fiz. Já vão perceber porque. À minha esquerda vejo colmeias, e poucos metros mais abaixo deixo este caminho virando à esquerda. Entretanto, há algum tempo que tinha vestido o impermeável, pois as primeiras pingas do dia já tinham começado a cair.
Para chegar à Barragem do Rio Mula tive de passar por vários troncos tombados no caminho. Grandes pinheiros tinham sido cortados e impediam a passagem. Realmente não percebo qual o objectivo. Se é para o pessoal do todo-o-terreno não andar a dar cabo dos caminhos, o objectivo foi conseguindo, mas se houver um incêndio…
A Barragem do Rio Mula não tem nada de especial. Feita em cimento, que me pareceu já há bastantes anos, está a metade da sua capacidade, faltando ainda uns bons 3 metros para atingir o descarregador de emergência. Achei estranho pois a zona de Sintra não é assim tão verde pelos seus lindos raios de sol, mas também não sei qual o objectivo de construir uma estrutura deste tipo se não a aproveita.
Não existia vivalma, só uma dia muito feio, nada convidativo a sair de casa, e um céu que ameaçava cada vez mais cair-me em cima.
As marcas que segui até aqui desapareceram, e orientei-me a partir daqui pelas minhas fotos. Segui pelas margens da albufeira, por uma caminho onde uma placa indicava que era privado um número de telemóvel de uma qualquer empresa de segurança era referido. “Se é privado, que ponham cancela, caminho completamente aberto é publico…”, pensei. Mas a frente no dia encontrei uma cancela completamente aberta e metida na vegetação que dizia propriedade privada. Esta estrutura não era mexida à muito tempo, pois vegetação consumia-a lentamente.
Comecei a subir em direcção ao cruzamento do Convento dos Capucho, sempre a ouvir água a correr ao meu lado esquerdo. Neste momento já não se tolerava as pingas que caíam, e tive de por o capuz do imprevisível. Continuei a ouvir a água a correr, e de vez em quando olhava, para ver se conseguia ver alguma coisa por entre a vegetação densa. Adoro cantinhos onde corre água. Ver os caminhos escolhidos pela água, as suas soluções para contornar a vegetação.
De repente as coisas mudaram. Por entre a vegetação, vi isto. Fui em direcção ao som da água e descobri um dos sítios mais fantásticos da serra.
Desde a Barragem do Rio Mula, um carreiro e um ribeiro entrelaçavam-se entre as árvores. Dos cenários mais fantásticos que já vi, onde um ribeiro correndo num fundo de areia clara, corria, contornando todo o tipo de vegetação. O carreiro tenta acompanha-lo, passando de uma margem para a outra através de uma simples estrutura de madeira (foto), que se confundia perfeitamente com a paisagem.
A certo ponto tudo se misturava, deixava de haver leito e então, sobre um chão de areia, corria água entre as árvores. Era verem-se a chapinhar por ali acima todo contente.

Nesse ano um incêndio tirou a vida de 25 bombeiros que o combatiam um incêndio na serra de Sintra. A beira da estrada estão duas lápides que lembram esse momento. Uma delas, colocada em 1990 por cima da entrada de uma mina (nascente), diz que ali tomaram abrigo os bombeiros, tentando escapar ao fogo, em vão. Poucos metros mais acima da encosta então plantados 25 ciprestes em memória destes homens. Para lá chegar, sobe-se umas escadas pelo meio da densa vegetação, até uma clareira, onde supostamente 25 ciprestes deviam estar plantados. Torna-se obvio que este tipo de árvore não se deu muito bem com os ares da serra. Mas o espaço está lá, e não sei porque, não é para ficar indiferente.