terça-feira, fevereiro 14, 2006

A força das palavras


História dos homens é feita de palavras. São elas que comandam os acontecimentos e os passos que o mundo dá, umas vezes para a frente, outras vezes para trás. E uma simples frase pode corresponder a um salto da civilização.
Esta frase, por exemplo: “I have a dream!” (Eu tenho um sonho!). Dos homens e mulheres de hoje, poucos terão ouvido o discurso de Martin Luther King em Washington, no dia 23 de Agosto de 1963. Mas toda a gente sabe o que ela significa e o impulso que deu à luta dos negros norte-americanos pela igualdade de direitos cívicos e políticos.
Há frases que se tornam malditas porque estão ligadas a acontecimentos e lugares sinistros. Mesmo quem não domine o alemão é capaz de sentir hoje o horror associado à cínica divisa do campo de Auschwitz: “Arbeit macht frei!” (O trabalho liberta!). Do mesmo modo que compreende a vigorosa determinação que J.F.Kennedy soube transmitir aos berlinenses cercados pelo muro da vergonha com esta afirmação tão simples: “Ich bin ein berliner!” (Eu sou um berlinense!). Era uma expressão de solidariedade com os habitantes de Berlim, quando a parte ocidental da cidade se tornou uma ilha para lá da cortina de ferro; mas era, acima de tudo, uma poderosa declaração de guerra aos eventuais planos de progressão do Pacto de Varsóvia para Ocidente. Com aquelas palavras, Kennedy fixou a última fronteira da Europa entre a liberdade e o totalitarismo, no auge da Guerra Fria.
Quem leia hoje o discurso do general Patton aos seus homens em vésperas do Dia D
(“o verdadeiro herói é o homem que combate, apesar de ter medo”) fica com a certeza absoluta de que essas palavras por vezes toscas e brutais de um grande cabo de guerra (“Nem todos vocês vão morrer...”) são uma parte, porventura decisiva, da vitória sobre o nazismo.
A força das palavras é
, pois, a força da humanidade. Ela está nos livros que as preservam e no-las devolvem para melhor compreendermos o mundo.


Fermanda Madrinha
(Editorialista do Jornal Expresso)

1 comentário:

Anónimo disse...

Adorei a magnificência das palavras e do texto. Foi muito bem escolhido.
Beijinhos