domingo, agosto 20, 2006

Planícies

Chegou o dia da grande viagem pelo interior de Portugal. Tudo começou no ano passado com uma viagem parecida, feita em menos dias e sem paragens em parques de campismo.

A ideia é simples. Dormir em parques de campismo, visitar aldeias históricas, levar a bicicleta para reduzir o tempo gasto na visita mas terras maiores, fazer muitos quilómetros por estradas com pouco trânsito, sentir a velocidade naquelas estradas estreitas, apesar de ir só a 60-80 km. Sentir os lugares principalmente. Não gosto de ir, simplesmente para marcar o ponto.
Começo por visitar a minha avó, que nesta altura do ano está na sua terra natal, numa vila perto de Elvas. No dia seguinte começo a minha viagem para norte em direcção a um Portugal desconhecido, mas que aos poucos vai sendo descoberto.
Faço um desvio para visitar Évora, cidade património mundial. Apesar de há muito se ter expandido para fora das muralhas, esta cidade conseguiu manter um vasto centro histórico, que trai no Verão uma quantidade considerável de turistas.
Deixo o carro no Rossio de S. Brás, largo espaço aberto a sul da cidade. Monto a bicicleta e começo a percorrer as ruas em direcção ao centro.
Pela Travessa das Pêras chego à Rua Miguel Bombarda. Duas janelas com sacada decorada com esfera armilar. Logo a seguir o Largo da Misericórdia, a Igreja de S. Vicente, datada de 1467 com alguns vestígios de arquitectura gótica.

A Rua da República dá acesso à famosa praça do Giraldo (foto). Os arcos aqui existentes e bem característicos de uma certa parte da cidade, que se estendem pela praça do Giraldo e continuam pela Rua João de Deus, dão uma passagem segura aos peões e sombra a uma mesa ou outra de um café por ali instalado.
Na Praça do Giraldo, procuro o que procuro em todas as terras por onde passo: Posto de Turismo. Agora que já tenho uma mapa, já é mais fácil orientar-me, ou pelo menos saber o que são os sítios onde passo.
Praça do Giraldo, centro da cidade de Évora com o seu Paço dos Estaus de D. Duarte com os seus vestígios góticos, a famoso Fonte Henriquina e Igreja de Santo Antão decorado com arte renascentista. No tempo em que os meus avós vivem nesta cidade, a minha avó conta que o meu avô gostava de vir conversar para esta praça, onde criticava o antigo regime. Era obvio que ela ficava preocupada pois nesse tempo os opositores ou que falavam mal do regime era geralmente presos.
Subo a Rua 5 de Outubro pelo meio de muito de turistas, esplanadas e lojas de recordações. Vou espreitando todos os cantinhos, em busca de algo que me tente escapar.
Chego ao Largo Conde Vila Flor, mais conhecido por ter o templo de Diana (foto). Templo romano erguido sob uma necrópole de Évora. Data do séc. I d.C..
Contorno a Sé descendo por uma rua que me dá acesso ao Largo das Portas de Moura (foto). Existe uma fonte renascentista data de 1556 neste largo, onde o desgaste devido ao uso é visível nos blocos de mármore, com que foi construída.

Volto a subir em direcção a porta principal da Sé, continuando a contorná-la no sentido horário. Nas escadarias está uma senhora a pintar miniaturas de casas alentejanas. Mais acima, e aproveitando a sombra das árvores, charretes esperam clientes. Reparo que é fácil ver qual o percurso que fazem, pois o chão está marcado pelos cascos ferrados dos cavalos.Desço a Rua Vasco da Gama, Largo de S. Tiago, Praça do Sertório onde estão as termas romanas situadas no subsolo do edifício dos Paços do Concelho, datadas do séc. I d.C.
Sigo pela Rua Nova onde existe uma caixa de água para distribuição do cano real, data de 1536, planta rectangular, estilo renascentista com um depósito central rodeada por 12 colunas toscanas.
Continuo por essa rua, cruzo outra vez com a Rua 5 de Outubro, e continuo por uma travessa que não sei o nome, onde peço passagem a duas senhoras idosas que ai iam avançando com o seu passo desengonçado. Uma delas desvia-se e pede desculpa e eu retribuiu com um “não há problema”.
Volto à Praça do Giraldo mas desta vez saio pela Rua João de Deus, seguindo os arcos até ao Largo Luís de Camões, ou Porta Nova, onde se pode ver uma parte do aqueduto, Rua José Elias Garcia, que vai ter à Praça Joaquim António de Aguiar onde existe um moderno jardim e parque de estacionamento subterrâneo. O Theatro Garcia de Rezende (foto) compõe a praça.
Na Rua Cândido dos Reis encontro uma mercearia aberta e entro num espaço pequeníssimo que tinha um pouco de tudo e de nada. Uma cliente gordinha preenche uma boa parte do espaço e tempo negociar com ela algum espaço para escolher maçãs. Tudo é feito com muita calma. Não há pressas por estes lados, nunca houve, porque haveria esta gente de ter agora? Nós é que nascemos noutro tempo em que tudo é para ontem…

Próximo destino, Juromenha. Ouvi falar que tinha um castelo sobre o Rio Guadiana e tive de investigar. De povoação não tem nada de especial excepto o enorme forte (foto). Ponto alto naquela zona domina a planície espanhola do outro lado do rio. Apesar de Alqueva estar a muitos quilómetros de distância a sua influência é notada pelo caudal do rio.
Algumas estruturas nas duas margens ficaram submersas. Aproveitando esta água extra, algumas estufas e culturas de regadio. No interior do forte é uma ruína que impressão. Casa com brasão que parece estar ao abandono desde sempre. Existe várias igrejas em capelas, todas elas degradadas. A igreja principal (foto) tem um telhado novo, mas o grau de degradação é tão grande que até os pombos fazem dela sua casa. Esta aldeia é um bom exemplo do isolamento baseado na situação geográfica. Os acessos não são maus, mas as rotas turísticas entre Elvas e Évora são inexistentes.
Fim do 1º Dia

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